Ainda sobre a repostagem publicada pelo jornal Público no dia 23 de Outubro, que se pode ler no fórum, fica aqui a opinião de Anselmo Gonçalves professor na Escola secundária em Pampilhosa da Serra. Está a fazer doutoramento em Geografia especialidade em Geografia Física e Estudos Ambientais, na Universidade de Coimbra O tema do doutoramento tem a ver com as Minas da Panasqueira e os impactes ambientais provocados no rio Zêzere.
Estando a desenvolver estudos, tendo em vista a obtenção do grau de Doutor em Geografia pela Universidade de Coimbra subordinada ao tema: ALTERAÇÕES AMBIENTAIS E RISCOS ASSOCIADOS PROVOCADOS PELA INDÚSTRIA MINEIRA NO CURSO MÉDIO DO RIO ZÊZERE – O CASO DA MINA DA PANASQUEIRA, e atendendo a que em 2004, quando elaborava tese de mestrado em Geografia Física e Estudos Ambientais, subordinada ao tema: MINA DA PANASQUEIRA CONTRIBUTO PARA UM PLANO DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL E PAISAGÍSTICA, houve necessidade de me deslocar constantemente ao campo e à mina para investigações ligadas ao normal desenvolvimento das minhas teses de mestrado e doutoramento, tive ontem como hoje que solidificar as minhas relações e as minhas amizades com os mineiros, ao longo deste tempo fui criando laços de profunda amizade e respeito com todos estes homens que me dão a garantia de estar hoje e aqui a tomar o seu partido.
Assim vejamos:
É de profundo mau gosto ouvir alguém que até deveria ter um enorme respeito pelos mineiros dizer, “os mineiros são pessoas amargas rudes, não são emotivos, mesmo que se revejam numa situação como aquela” (aqui referindo-se claro está aos colegas Chilenos);
“Têm falta de cultura e de solidariedade”;
Pelo que hoje posso afirmar sustentado pelo que acima transcrevi:
1 – Os mineiros não são amargos apenas têm de lutar diariamente por um salário que lhes permita enfrentar juntamente com as suas famílias o dia-a-dia, o que nem sempre lhes permite andarem com um enorme sorriso;
2 – São emotivos, e posso-o afirmar em toda a sua expressão, porque são seres humanos como qualquer um de nós, têm a capacidade de sentir o bem e o mal e reagem sempre em função das suas preocupações a palavra “cobarde” não existe no seu vocabulário, não são hipócritas;
3 – Por experiência alicerçada no meu convívio com estes Homens posso afirmá-lo que são Cultos a sua cultura não é construída pela predilecção livresca, mas assente numa experiência de vida que pela dureza que lhes impõe transmitem-na aos mais novos criando uma teia alicerçada no saber fazer, muito tenho aprendido com este Homens, diria mesmo muito do que hoje sei sobre minas, exploração mineira, e sobre o difícil trabalho das minas e que muito me têm ajudado a solidificar os meus conhecimentos sobre esta temática proveio da boca e do saber fazer destes mineiros;
4 – Solidariedade? Quem fala em solidariedade deve à partida saber do que está a falar. Sinceramente neste já largo período em que contacto quase semanalmente com estes homens, foram eles que mais do que ninguém que me ensinaram a perceber o sentido da palavra solidariedade, a forma como actuam com os seus colegas de trabalho, a forma como resolvem os seus desentendimentos, as zangas, não existem nos momentos de aflição de um ou mais mineiros nestes casos é vê-los a juntarem-se (como um corpo) para ajudar os colegas ou as famílias destes em dificuldades.
5 De facto o trabalho na mina não é para qualquer um, eles os mineiros funcionam como um corpo diria de “Tropas especiais”, mas acima de tudo são crentes quando entram para a mina sabem exactamente o que vão enfrentar, com certeza em cada momento os sentimentos vêm ao de cima, muitos são casados têm filhos e têm ainda os seus pais ao seu encargo, tudo isto é suficiente para dizer que os mineiros são também uns sentimentalões. Não deveria dize-lo os mineiros provavelmente não me perdoarão, mas eles também choram.
6 – Hoje para quem conhece a mina sabe e deveria afirmá-lo que o trabalho é muito mais seguro, mas com certeza não é desprovido de risco, e essa grande evolução nas condições de trabalho muito deve à luta constante destes Homens por melhores condições de trabalho.
Por tudo isto que acabo de expor solicito-lhe a atenção que queira dispensar e aceite publicar esta minha nota.
Com os melhores cumprimentos
Anselmo C. Ramos Gonçalves